Entrevista com Instituto Brasileiro de Teatro

Tudo, Menos Uma Crítica
5 min readMay 2, 2022

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Formado pelos artistas Guto Portugal, Elisa Volpatto,
Oliver Tibeau, Samya Pascotto e José Aragão, o Instituto Brasileiro de Teatro sugre interessado em fazer a ponte entre três pilares: a sociedade, o teatro e a iniciativa privada. “Forças que já têm tudo a ver, mas não sabem muito bem como começar essa conversa”, conforme comentam no release da empreitada.

Seu primeiro projeto em cartaz é Diabinho e outras peças curtas de Caryl Churchill, dramaturga inglesa com olha afiado para os sistemas de crença e de poder (e na retroalimentação de ambos) da sociedade contemporânea.

Em cartaz no auditório do MASP, a montagem tem entrada gratuita, e conta com a direção de Guto Portugal, com Noemi Marinho, Norival Rizzo, Elisa Volpatto, Johnnas Oliva, Mayara Constantino e Rafael Pimenta no elenco (e Oliver Tibeau como assistente de direção e stand-in).

Foi sobre esta primeira montagem e sobre os objetivos futuros do IBT que o Tudo, Menos uma Crítica conversou com o grupo:

Por que a decisão de encenar Diabinho e outras peças curtas de Caryl Churchill? Quais temas presentes na dramaturgia de Churchill vocês julgam mais pertinentes no contexto atual?

Durante a sua trajetória, Caryl Churchill ficou famosa por abordar a banalidade do mal e esse sempre é um tema pertinente, principalmente pensando em um Brasil em ano eleitoral, em que o debate sobre a sociedade fica em evidência. Mas o que há de potente nesses novos textos é a relação entre a banalidade do mal e a violência com as crenças humanas.

Essa provocação sobre o que acreditamos e como isso dita as nossas ações, me faz refletir muito sobre as minhas próprias ações. Dora consegue terceirizar sua maldade com um Diabinho, os seres humanos colocam a culpa nos Deuses, os amigos do Barba Azul fazem emergir sua própria violência ao tentarem minimizar a violência do amigo assassino. Então até quando iremos terceirizar nossas atitudes?

Caryl Churchill é conhecida por fazer perguntas, mas nunca dar respostas — forma aparente nos textos, que terminam sem conclusões às aflições inauguradas. Dentro do cenário atual precisamos nos perguntar se a maldade que julgamos no outro não está dentro de nós, seja por meio de nossos pequenos atos cotidianos, por meio da banalidade ou da inércia.

Como se deu o processo de montagem do espetáculo? Quais foram os aspectos da dramaturgia de Churchill que a direção quis privilegiar?

A primeira grande questão para montar Caryl Churchill era ter uma tradução que não só desse conta de compreender os textos da dramaturga, mas que também fizesse jus à sua escrita ágil e naturalista. Caryl Churchill ficou famosa por ter inventado a “/“ nas dramaturgias contemporâneas — uma indicação de uma fala que sobrepõe a fala seguinte. Essa marca na escrita da autora precisava de uma tradução específica, que desse conta do absurdo dos textos, sem perder a sua sonoridade natural.

Outro ponto importante para a montagem é que existem quatro textos distintos, com formas dramatúrgicas bem diferentes uma da outra, mas que conversam entre si, e muito. Era importante para mim traduzir a forma de cada texto na encenação, colocando as palavras de Caryl Churchill em evidência, sem perder a unidade entre cada peça. Existe texto com indicação de rubrica sobre o que “não fazer”, e outros em que não há nenhuma indicação. Alguns têm personagens, outros não.

São textos muito contemporâneos e provocadores, que necessitam um olhar não só sobre tema, personagens e contexto, mas sobre a forma com que a palavra é apresentada no papel.

O que este espetáculo diz sobre o Instituto Brasileiro de Teatro, artística e tematicamente? Quais textos vocês desejam encenar no futuro?

O IBT quer ser um instituto muito plural e diverso no que se refere à dramaturgia, abarcando desde grandes nomes da literatura internacional — como a Caryl — até dramaturgos contemporâneos brasileiros que precisam de espaço e recursos para desenvolver suas obras.

Acreditamos que essa pluralidade vai nos ajudar a desenvolver um leque mais amplo de produções e contribuir para a formação de público, um dos pilares do Instituto. Atualmente temos dois novos projetos acontecendo simultaneamente ao “Diabinho e outras peças curtas de Caryl Churchill”.

O primeiro é uma adaptação do clássico “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, de Jorge Amado, uma parceria do IBT com a Cia. Novelo . A estreia será em maio no Parque Augusta, com direção de Maristela Chelala e entrada gratuita. E o segundo projeto é um musical autoral brasileiro ainda em desenvolvimento, com estreia prevista para 2023.

Quais são os objetivos do Instituto Brasileiro de Teatro a médio e longo prazo?

Gostaríamos de ser mais uma possibilidade de produção de teatro em São Paulo e no Brasil. Essa ponte entre as três forças poderosas da qual falamos, o teatro, a iniciativa privada e a sociedade, tem o intuito de valorizar o trabalho dos artistas com remuneração justa, irradiar para o grande público o resultado desse trabalho por meio de preços acessíveis ou gratuitamente e promover a responsabilidade social das empresas que apoiam e o engajamento delas com seu público.

Queremos que o IBT seja um grande guarda-chuva que abarque a cada ano o trabalho de diferentes companhias ou artistas independentes, abraçando as mais diversas temáticas. Queremos que muita gente possa beber dessa fonte. A maneira disso acontecer provavelmente se dará por meio da abertura de editais. E gostaríamos também de abrir um braço de atividades formativas, provendo oficinas e debates voltadas às artes cênicas. Estamos começando.

Há muito a ser feito, estamos ainda entendendo como tudo vai funcionar, é um processo de aprendizagem também. Mas ideias não faltam e vontade de trabalhar também não

O elenco de Diabinho e outras peças curtas de Caryl Churchill. Foto: Helena Wolfenson

Diabinho e outras peças curtas
Texto: Caryl Churchill
Tradução: Zé Roberto Valente
Direção: Guto Portugal
Elenco: Noemi Marinho, Norival Rizzo, Elisa Volpatto, Johnnas Oliva, Mayara Constantino e Rafael Pimenta
Stand-in: Oliver Tibeau
Assistente de direção e View Points: Oliver Tibeau
Cenário e Luz: Wagner Antônio
Cenógrafa Adjunta: Stéphanie Fretin
Assistente de iluminação: Dimitri Luppi
Figurino: Flora Belotti e Rogério Romualdo
Composição Original de Trilha Sonora: Edson Secco
Fotos de Divulgação: Gabriel Bianchini
Produção Administrativa e Financeira: José Augusto Aragão
Direção de produção: Selene Marinho
Produção executiva: Marcela Horta
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Realização: Instituto Brasileiro de Teatro
Produção: SM Arte e Cultura

SERVIÇO
De 15 de abril a 5 de junho
Teatro do MASP — Av. Paulista 1578 — Bela Vista
Sextas e sábados 20:30h
Domingos 19h
Ingressos: 1kg de alimento não perecível

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Written by Tudo, Menos Uma Crítica

textos reflexivos de Fernando Pivotto sobre teatro que são tudo, menos uma crítica

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